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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Banco.

Não sei o exactamente porquê mas desde que aquele banco dali saiu nada voltou ao normal. Os teus olhos não têm brilho e são frios. A alegria que noutros tempos tinhas desapareceu tão rápido como aquele banco de jardim dali saiu.

Tudo o que sonhaste, o banco derrubado matou. Agora a vida está sem cor e distante. As palavras que usas são cruas e de prepotência, magoando aquela que outrora amaste e desejaste mais que a tua própria vida. É ela que te faz ver o sentido da vida e te enche de cor o filme da existência. Ela é esbelta e culta matando os tempos mortos que te relembram o que noutros tempos viveste, na altura em que o banco ainda existia.

Como pode um simples banco mudar tanta coisa? Talvez não haja uma resposta racional mas o facto é que muda e destrói esperanças. Todo o futuro que tinhas imaginado (e ela também, sem saberes) derruba como se nunca tivesse tido suportes para a sua sustentabilidade e jamais fosse possível existir tal maravilha criada no imaginário. Tu não sabes, mas ela também sofreu com o derrube do banco. Porque não falas com ela? Porque não lhe perguntas como se sente? Ela não está feliz.

Ainda te lembras da primeira tarde no banco? Aquela em que tu lhe puseste o braço direito por cima dos ombros e ela te deu a mão. Foi uma tarde tão feliz e que causou tanta inveja. Tu estavas feliz e isso notava-se, mas ela também estava.

Ela apenas tenta esconder o que sente porque tem medo de seguir em frente! Ela tem medo que a magoes e tem medo de acreditar numa coisa que pode nunca vir a ser verdade. Ajuda-a, ela precisa.

Tu finges que não te afecta e até já mudaste de banco e arranjas-te outra “ela”. Não prestas. És frio, egoísta e tens o rei na barriga. Tu gostaste tanto do banco como ela e não podes negar. Todos repararam no sorriso parvo esboçado na tua cara quando falavas dela e a tocavas como se soubesses que era tua para sempre. Podes ser feliz.

Tens saudades do banco que não passava de um bocado de madeira velha e húmida, mas as coisas simples têm muito encanto. O vosso perfume permanece naquele espaço e quando lá vais ainda a consegues ver à tua espera com os olhos verdes e o cabelo cor de amêndoa. Tudo era mais fácil se não quisesses mostrar esse teu lado de homem forte e que não sofre. Muda. Sê feliz. Fá-la feliz.

sábado, 10 de maio de 2008

O Meu Piano.

Neste mundo escuro são poucas as vezes que consigo fugir da realidade que vivo que na verdade não é a minha. Vivo aquilo que a sociedade dita e permite.

Ai!... Se não fosse o meu piano.

Cada passo no mundo é uma encruzilhada de problemas que surgem não sei bem de onde mas não me deixam de perseguir. As ruas estão cada vez mais escuras e se queres atravessar não há passadeiras e são escassas as vezes que o trânsito te deixa passar. Tens de arriscar e saltar em frente no momento oportuno. (Há sempre momento e lugar oportunos, só tens de procurar os teus.)

Nesta escuridão imensa tudo me deixa à beira da loucura.

Ai!... Se não fosse o meu piano.

Com o piano compilo melodias leves que me permitem sonhar e imaginar o inimaginável, alcançar o inalcançável e conquistar o inconquistável.

Mesmo no meio do fumo negro que provém dos passos acelerados das pessoas que não estão interessadas em interagir, eu consigo encontrar paz junto do meu instrumento de muitas teclas onde as minhas mãos voam sem custo.

Na minha face esboça-se um sorriso parvo e inocente de quem está apaixonado. De facto estou. O piano é o meu amor. Quero um dia ser como os grandes…

A fuga ao mundo real está naquele piano que está só no meu sótão. Aí não há movimentos bruscos, antipatia ou escuridão. A serenidade e plenitude estão à distância de um pressionar ordenado e compassado das teclas que deixam que a minha mente voe.

Deixa-me sonhar piano!

Mundo

O mundo vira as páginas mais rápido que eu. Não consigo saborear cada palavra porque o mundo pede-me para passar à frente. A velocidade a que ele funciona é muito superior à minha e não consigo viver.

Este mundo está cada vez mais negro e encruzilhado. Os caminhos feitos pelas pessoas são paralelos para evitarem interacções. Acabaram os toques, os cheiros, as conversas. Agora tudo é coberto de fumo e barulho que não sei bem de onde vem mas que incomoda e impede a vida quotidiana, pelo menos a minha, de funcionar como antes pudera funcionar.

Antes podia andar pelas ruas e cruzar-me com pessoas, rir e esperar um dia sempre melhor. Agora isso não passa de uma ideia remota que nem os meninos pequeninos têm. Aliás, eles nunca pensaram nisso.

As pessoas são como fotocópias umas das outras e têm como modelo a seguir uma criatura demoníaca chamada moda. Todos são iguais, pensam da mesma maneira e vestem igual, como se tivessem sido criados em série numa fábrica. Onde está a diferença e a liberdade? Preciso disso.

Olho nos olhos das pessoas e já não me vêm como antes. Estão diferentes, mais distantes e frias, mais escuras e desligadas do mundo.