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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

15 Minutos.

O mundo desabou e não passaram sequer quinze minutos.
Está tudo ainda fresco, literalmente. O tempo amarelo logo de manhã, desejou-me um dia de diarreia social que tenho de suportar. Mas não há ninguém que puxe o autoclismo?
Sorrir, gargalhar, ser feliz. Todos o são. Pelo menos, a máscara é. Excepto aqueles que adopta uma postura rígida de quem é sofredor destinado a falhar.
Reina quem quer, e não quem merece. É louvada a hipocrisia ascendente deste mundo enquanto os honestos, desgrenhados mas com ideias brilhantes, cumprem pena num qualquer estabelecimento prisional deste monte de pó. O mesmo monte de pó que nos atiram para os olhos e nós sorrimos. Todo o mundo tem consciência do sistema em vigor, Todo o mundo critica o sistema em vigor, todo o mundo diz querer deitar abaixo o sistema em vigor. Todo o mundo SORRI ao sistema em vigor.
Para quê perder tempo com a honestidade se é um passe directo para a humilhação e descrença sociais?
Ambiciono agora a hipocrisia. Tenciono ser mais vígaro que o vígaro que me aldraba. Saudar cordialmente quem me ama de morte (literalmente, de morte) e desejo o dobro do que me desejarem a mim (seja isso o que for).
Sorrir, gargalhar, ser feliz. Pelo menos, a máscara será.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Castelo.

O castelo sem rei. Perto, uma fogueira que aquece aquilo que já à muito gelou. Fugir para longe de tal lugar é a escolha certa, mas magoa. Perdoar, sim. Esquecer, nunca.
É possível perder horas perto do lume, mas aquele lugar apenas te dirá o que não é verdade, e o coração não pode sentir aquilo que não existe. O comboio já passou e não há como voltar. É escusado voltar para trás da muralha e fingir que o reinado está de pé pois este partiu à muito e levou o tempo e o sentimento. Podia dizer muita coisa, mas mais de metade não seria verdade. Por isso restrinjo-me ao silêncio absolutamente mentiroso que abraça o oasis pela última vez, magoando a alma.
Resta brincar com as asas quebradas e tentar construir uma nova monarquia naquele spot. Chegará o ponto em que surge a duvida O que estou a fazer?, mas o certo é pesar a terra que ainda ficou e o sol que virá no fim desta longa noite.
Como arranjar coragem para admitir que aquela terra já não tem o valor que tinha no início? Como tomar consciência que a venda do castelo pode ser a opção correcta a tomar sabendo que se pode passar de cavalo para burro? Tudo depende do burro. E da sorte.
Arriscar.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Soldado Luminoso.

Querer dormir e ter o maldito feixe de luz a embater na face ainda adormecida, é provavelmente o pior início de fim de semana. Neste caso, um fim de semana que começa quase às duas meias dúzias de horas já com direito a cheiro de refogado do almoço. Aquele pequeno espaço na persiana permitia tal feixe encadear-me e interromper o meu sono. Debati-me mudando a minha posição na cama até encontrar uma maneira de aquela estúpida radiação solar me deixar prolongar a já comprida manhã de sábado. Tapei a cara com os lençóis mas não foi o suficiente. Mudei então de estratégia de combate e usei a almofada como armadura. Lutei contra aquele guerreiro de luz mas fui mais que mal sucedida. A luz continuava a caminhar direitinha em direcção aos meus olhos, cegando-me e tornando o meu quarto (que até então era o meu espaço de eleição) uma zona de guerra que me fazia sentir angustiada.

Por vários minutos esta situação manteve-se até que eu decidi combater a preguiça e puxar os lençóis para o fundo da cama para que o meu corpo arrefecesse e eu ganhasse coragem de me levantar. Em poucos segundos cheguei perto da janela e fechei a persiana. Ou pelo menos achei que o fiz. A maldita estava estragada e o irritante feixe de luz continuou a exibir-se gritando vitória.

- Não vais ser tu, guerreirozeco cintilante, que me vai derrotar nesta batalha onde me debato contra um adversário que nem argumentar consegue.

Não sei porque falei. No fundo, estava despenteada, de pijama e a dirigir a palavra a um mero feixe de luz que teimava em não sair dali. A irritação fluía-me no sangue e o desespero espreitava ainda um tanto ou quanto distante. Arrastei os cortinados na esperança que aquela estúpida claridade fosse tapada e me deixasse descansar mas aconteceu o oposto. Por ser de um material qualquer que mais pareciam fios de nylon entrelaçados e tingidos de rosa, a luz dissipou-se e iluminou todo o quarto em vez de só ir em direcção à minha almofada. Foi nesta altura que decidi deitar-me de novo. Voltei a por as cortinas no lugar inicial e dirigi-me para a minha cama. Os lençóis térmicos ajudaram a não sentir as diferenças de temperatura. Deitei-me de costas para o soldadinho luminoso e aguardei o regresso do sono. Esperei, esperei e voltei a esperar. Não havia meio de voltar a descansar. No meu inconsciente ribombava a angústia de não conseguir vencer um idiota feixe de luz que não só arruinara a minha manhã mas como, por arrasto, afectaria todo o meu humor ao longo daquele que seria um longo fim de semana.

Fartei-me daquela posição que me deixava frágil por estar de costas para o inimigo. Voltei-me e lá estava, o imbatível lutador reluzente. O desespero tomou conta de mim e comecei a chorar.

- Está melhor assim? Contente? Espero que gostes de me ver assim pois tudo isto é por tua causa. Ganhaste, parabéns.

Estas foram as palavras que gritei. Não havia mais nada a fazer. Aquela luzinha irritante tinha conseguido. Baixei a guarda e chorei por uma razão tão estúpida como uma persiana estragada que permitia que uns meros raios de luz entrassem no meu quarto e não me deixassem dormir.
Para muitos, uma razão idiota. Para mim, o meu orgulho posto em causa.



Uma situação tão humilhante como esta deixou-me a pensar:
Por vezes nem sempre os mais fortes e com vantagem, como eu neste caso, ganham sobre os aparentemente fracos e frágeis. Um singelo feixe luminoso consegui por-me a chorar numa questão de alguns minutos.
Pelo meu ponto de vista, nem sempre os mais fortes ganham.
Pelo ponto de vista do Soldado Luminoso, os que se julgam fortes são tão estúpidos que são derrotados apenas por o ego deles ser posto em causa.