Ryo descobre, em Spiral of Deception, na sua viagem de
autodescoberta marcada por confrontos entre anjos e demónios, que o bem e o mal
estão longe de ser preto e branco, mas antes infinitos tons de cinzento. É sob
esta premissa que o segundo livro ata aquilo que pareciam ser pontos sem nó e
esclarece dúvidas pendentes sem, por isso, deixar de levantar novas questões.
Penance by Fate, o segundo livro da saga Demon’s Blood, é ainda
melhor do que o primeiro. É notória a evolução da qualidade da escrita do
autor: esta tornou-se ainda mais dinâmica (e já em Spiral of Deception havia
ficado fascinada com o ritmo impresso à história – detalhada o suficiente para
ver o filme correr no meu imaginário, sintética quanto baste para que seja
impossível morrer de tédio) e o vocabulário foi ficando mais e mais rico.
Se no primeiro livro tive vontade de, em alguns momentos,
ler algumas cenas de batalha na diagonal por achá-las um tanto extensas (e,
para o meu gosto pessoal, as potencialmente desinteressantes), neste segundo
volume até nessas partes quis saborear todas as palavras com calma. As descrições
acontecem ao ritmo perfeito permitindo-me sentir no meio do caos relatado,
sentindo derrotas e vitórias como se fossem minhas.
No Book II surgem ainda mais núcleos na história que ganha,
assim, mais dimensão e profundidade. Sou uma fã assumida da dinâmica da relação
entre Nina e Smith, manifestamente o comic relief da saga. Os relatos são tão
bem feitos, as aventuras tão, na sua génese, possíveis de imaginar como nossas,
que, de repente, no meio das páginas, damos por nós a querer ser amigos
daquelas duas personagens. Estes dois são um plus, para mim, numa história que,
no geral, é tão densa e cheia de escolhas difíceis.
Quanto a potenciais aspectos negativos, bem, para mim, a
única coisa que há a sublinhar é a mesma coisa que me fez amar a história da
primeira página à última: a sua imprevisibilidade. Acompanhei a história de
todas aquelas personagens com um sentimento de quase frustração pelos diversos
finais que lhes foram sendo ditados, permanentemente a puxarem-me o tapete
debaixo dos pés. Para quem ama a total incapacidade de antever desfechos, este
livro é perfeito; para mim, que sou impaciente, estive, capítulo após capítulo,
em nervos a imaginar o que poderia acontecer, a devorar as páginas tão rápido
quanto possível para descobrir as respostas para todas as perguntas que
carregava comigo.
E no fim da história, tudo fez sentido, tudo se encaixou e
ganhou razão de ser. Ainda que, de certa forma, muita coisa fique em aberto, o
núcleo da trama fica explicado e não morre a vontade de ler mais sobre aquelas
personagens.
Penance by Fate é um livro cujo género literário o qualifica
na perfeição: fantástico.
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