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sábado, 22 de março de 2014

Espécie de coiso #3


E este é o ultimo espécie de coiso. Os textos não são bons mas eu já me ri imenso a relê-los. Não me lembro de escrevê-los.
 Porque quero limpar o meu computador e não quero que estas coisas se esfumem, publico-as para que fiquem arquivadas ciberneticamente.

"Via-te com frequência lá no supermercado. Sempre que podia, cirandava pelas caixas todas até ver a tua vazia para ser atendida por ti.
O teu cabelo loiro, se a memoria não me trai, sempre arranjado naquela curtinha crista que te dava uma pinta descomunal e os olhos claros tinham sido factores determinantes para que em segundos fixasse a tua imagem. Foi-me impossível ficar indiferente ao teu físico, ao corpo alto, bem constituído e às tuas mãos, tal como eu sonho vê-las em qualquer espécie masculino, com os dedos bem desenhados e os ossos marcados na pele.
Também havia qualquer coisa no teu rosto que se colou na minha cabeça. Não sei se a expressão incrivelmente masculina se um ar doce que tinhas sempre que me dizias “bom dia” e “são (inserir o valor das compras que efectuara) euros, por favor”.
É uma coisa estúpida, mas sempre achei que mais dia menos dia, ia, de uma vez por todas, ter a coragem de escrever o meu numero de telemóvel num talão qualquer e dar-to. Uma cena bem à miudinha, um gesto infantil e que seria o passaporte para que talvez nunca mais me atendesses, sei lá. Mas eu achava que só podias ser boa pessoa, um gajo porreiro com quem se poderia beber um café. Ou trinta.
E durante meses voltei sempre à tua caixa. Sempre com esperança que decorasses a minha cara, a minha voz. Imagina tu que eu pensei que até poderias por conversa por causa de uma música qualquer que eu ouvisse ou porque, de certeza, já tinhas notado que eu passava a vida a fazer compras.
Tinhas namorada. Disso eu nunca tive dúvidas. Uma figura como a tua não passava despercebida pelo que alguém mais corajoso que eu já se tinha feito ao bife. E isso não era impedimento de coisa nenhuma. Era assim uma coisa inocente, percebes? Tinhas uma boa vibe, tinhas o ar descontraído que eu gosto que me rodeie. E claro, eras giro que dói.
Quinta-feira soube que tinha havido um acidente terrível em Tomar. Que havia um ferido grave. O carro estava um caco e eu pensei imediatamente que ninguém sairia dali com vida. Á meia noite soube que o G., o gajo giro que trabalhava no supermercado tinha morrido nesse acidente, sendo ele o condutor e único passageiro do automóvel.
Fiquei gelada durante horas. Como é possível? Como é que foste embora sem nunca trocarmos o número, sem nunca termos bebido café, sem eu sequer saber o teu nome até saber da triste notícia?
                                                                                                                 
E bem G., onde quer que tu andes, agora já sabes, daqui a muitas dezenas de anos, espero eu, havemos de nos encontrar e beber o tal café. Descansa em paz."

sexta-feira, 21 de março de 2014

Espécie de coiso #2


"Tapo os meus olhos com uma venda imaginária para me fechar do mundo. Sento-me no chão com a t-shirt que me deste, com as flores permanentes ao peito, abraço as cartas recebidas e ponho o anel que significa tudo. Levanto-me para ir buscar os bilhetinhos que estão afixados no meu quadro de cortiça e ponho-os junto a mim, no tapete.
A minha cabeça grita alto o que sinto e eu não entendo. Ao mesmo tempo que vislumbro o quadro que pintámos sem tintas nem tela, apercebo-me da minha dependência – tu. O medo de perder a estabilidade, a aflição de não ser percebida, o pavor de acordar numa guerra à partida perdida. Um novelo de sentimentos opostos e confusos sobrepõem-se à pacificidade esperada fazendo-me sentir cansada sem ter de sair do lugar.
Amo-te não chega. O que sinto é tão grande e tão forte que poderia perder horas a tentar descrever mas não expressaria metade do sentimento. Não dei pela sua chegada e mesmo com ele aqui, não me sinto diferente. No fundo, é um pequeno soldado. Esperou quieto por saber que não tinha vantagem, e assim que reuniu um exército atacou-me usando uma técnica qualquer que me faz querer o calor dos teus lábios, o conforto dos teus olhos, a paz do teu toque. “Foi como um sopro estranho, aconteceu”.
No chão, rodeada de tanta prova material de que nada é uma ilusão, continuo a desesperar pelo teu gesto, mesmo que tenha acabado de te ver. Por alguma razão que desconheço, o (muito) tempo que passo contigo nunca parece suficiente. Quero sempre mais. Estou viciada.
Recordo o sabor da tua pele, a felicidade de ver o teu sorriso, a cara de “puto contente” que é sinal de satisfação.
A nossa história é uma página pesada, que o mundo nunca conseguirá virar.  Não há ninguém que chegue onde chegamos em conjunto. Não há ninguém como nós. Jamais separarei o teu gesto do meu. Gosto mesmo muito de ti."

Este também foi encontrado perdido nas pastas do computador. Escrito quando tinha 16 ou 17 anos. Ri-me. Como está tudo tão diferente...

quinta-feira, 20 de março de 2014

Espécie de coisa #1


"Eu tento não me perder, mas não é fácil. Outrora os meus dedos souberam exactamente o que escrever e o meu cérebro nem tinha de se esforçar para saber o que dizer. Hoje já não é assim. Os meus dedos curvam-se na esperança de te agarrar e o meu cérebro grita o teu nome. Diria que passei a ver o mundo a preto e branco, mas quem me dera ter sempre o dark bem pertinho.
Rezo para estar bem longe do mundo. As pessoas só atrapalham o que pode ser fácil. Não sei se sou ouvida ou compreendida pelo mundo. Mas também não me preocupa tal coisa. Sei que a minha voz soa boa aos ouvidos de quem realmente importa. Três meias centenas não chegam para me separar da melhor sensação do mundo. Não sei se compreendes o quão fundamental és para a minha existência. Dependo mais de ti do que algum dia pensei ser possível. As lágrimas caem involuntariamente e manter o controlo é impossível. Sem dar por ela, estou a chorar desalmadamente. Pior que um poster, a tua imagem está estampada em todo o lado e a tua voz ribomba em todos os cantos do meu inconsciente. O teu cheiro está colado a mim e a imagem das tuas mãos a envolverem-me é disparada em slides mentais.
Corro, mas não saio do lugar. Grito o mais alto que posso mas poucos são os que de facto me ouvem. Perdi-me. Perdi-me em ti e não encontro o caminho de volta. Na verdade, nem tenho forças para o procurar. Como procuro aquilo que não quero?"

Encontrei isto, perdido aqui no computador. Vindo directamente dos piores tempos que vivi. E que bom é olhar para trás e perceber que caminhei para a luz. Obrigada a ti. Por tudo. Por eu ser parte de ti.