E este é o ultimo espécie de coiso. Os textos não são bons mas eu já me ri imenso a relê-los. Não me lembro de escrevê-los.
Porque quero limpar o meu computador e não quero que estas coisas se esfumem, publico-as para que fiquem arquivadas ciberneticamente.
"Via-te com frequência lá no supermercado. Sempre que podia,
cirandava pelas caixas todas até ver a tua vazia para ser atendida por ti.
O teu cabelo loiro, se a memoria não me trai, sempre
arranjado naquela curtinha crista que te dava uma pinta descomunal e os olhos
claros tinham sido factores determinantes para que em segundos fixasse a tua
imagem. Foi-me impossível ficar indiferente ao teu físico, ao corpo alto, bem
constituído e às tuas mãos, tal como eu sonho vê-las em qualquer espécie
masculino, com os dedos bem desenhados e os ossos marcados na pele.
Também havia qualquer coisa no teu rosto que se colou na
minha cabeça. Não sei se a expressão incrivelmente masculina se um ar doce que
tinhas sempre que me dizias “bom dia” e “são (inserir o valor das compras que
efectuara) euros, por favor”.
É uma coisa estúpida, mas sempre achei que mais dia menos
dia, ia, de uma vez por todas, ter a coragem de escrever o meu numero de
telemóvel num talão qualquer e dar-to. Uma cena bem à miudinha, um gesto
infantil e que seria o passaporte para que talvez nunca mais me atendesses, sei
lá. Mas eu achava que só podias ser boa pessoa, um gajo porreiro com quem se
poderia beber um café. Ou trinta.
E durante meses voltei sempre à tua caixa. Sempre com
esperança que decorasses a minha cara, a minha voz. Imagina tu que eu pensei
que até poderias por conversa por causa de uma música qualquer que eu ouvisse
ou porque, de certeza, já tinhas notado que eu passava a vida a fazer compras.
Tinhas namorada. Disso eu nunca tive dúvidas. Uma figura
como a tua não passava despercebida pelo que alguém mais corajoso que eu já se
tinha feito ao bife. E isso não era impedimento de coisa nenhuma. Era assim uma
coisa inocente, percebes? Tinhas uma boa vibe,
tinhas o ar descontraído que eu gosto que me rodeie. E claro, eras giro que
dói.
Quinta-feira soube que tinha havido um acidente terrível em
Tomar. Que havia um ferido grave. O carro estava um caco e eu pensei
imediatamente que ninguém sairia dali com vida. Á meia noite soube que o G., o
gajo giro que trabalhava no supermercado tinha morrido nesse acidente, sendo
ele o condutor e único passageiro do automóvel.
Fiquei gelada durante horas. Como é possível? Como é que
foste embora sem nunca trocarmos o número, sem nunca termos bebido café, sem eu
sequer saber o teu nome até saber da triste notícia?
E bem G., onde quer que tu andes,
agora já sabes, daqui a muitas dezenas de anos, espero eu, havemos de nos
encontrar e beber o tal café. Descansa em paz."
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