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terça-feira, 6 de julho de 2010

Gerações

         A minha avó disse, recentemente, que não quer morrer sem conhecer um bisneto. Ora, eu sou a neta mais velha e a única rapariga. Isto leva a que eu tenha um tratamento diferente.
         Claro que a afirmação dela (ou será um pedido?) me pareceu absurda. Ridícula, até. Quem é que, aos 18 anos, pensa em ter filhos? Certamente haverá meia dúzia de alminhas que o ambiciona, mas a grande maioria não. Quero ir para a faculdade, licenciar-me e depois tirar um mestrado qualquer (dos bons, se possível). Ter filhos entra nos meus planos daqui a 7 ou 8 anos, se tudo correr bem.
          Depois da minha primeira reacção, lembrei-me que, como é obvio, a minha avó é de outro tempo, outra mentalidade. No tempo dela seria normal ter filhos a esta idade, talvez. A esta altura eu já a estava a entender mas rapidamente mudei o rumo do meu comboio de pensamentos: eu quero que eles - os meus 3 avós vivos e o meu avô emprestado - estejam cá para conhecer os meus filhos.  Quero que os meus bebés desfrutem daquilo que eu também tive. A ideia de perder qualquer um destes elementos fulcrais para o meu bem estar é terrivelmente penosa.
         Entrei num estado demasiado consciente. Já Fernando Pessoa tinha consciência da dor de pensar, do que custa estar consciente da realidade. Eu não quis - nem quero - saber o que vai acontecer eventualmente. Só quero ter a certeza que quando o momento chegar eu não vou ser assolada com ideias como "se eu tivesse feito X ou Y, tinha desfrutado melhor deles". Não quero perder nem um segundo que tenho disponível.

        Foi com base neste abanão psicológico que decidi que iria ficar a morar com os meus avós quando voltar para a minha cidade para estudar - que quem quer que esteja aí em cima que me ouça, sim? Faço muito gosto em conseguir entrar na Universidade de Coimbra. Não quero que aconteça alguma coisa e que eu, por estar longe deles, não os possa ajudar, me sinta impotente. Portanto, os planos são candidatar-me para lá, ir morar com os meus avós maternos (os paternos são vizinhos destes) e depois de uns meses (ou depois do último ano), arranjar um espacinho para mim.